A maravilha da vida é tudo nela ter justificação
Desabafo dum amigo, que não encontra justificação
para o seu pecado mortal, que é viver. Viver ao sol, gratuitamente, como um
lagarto.
Respondi-lhe
que a maravilha da vida é tudo nela ter justificação. É, da mais rasteira erva
ao mais nojento bicho, não haver presença no mundo que não seja necessária e
insubstituível.
Que, do
contrário, era faltar na terra esta admirável plurivalência, que faz de uma
tarde de sol, de trigo e de cigarras o mais assombroso espetáculo que se pode
ver.
O medir depois a distância que vai da formiga ao
leão, da urtiga ao castanheiro, de Nero a S. Francisco de Assis, é uma
casuística que não tem nada que ver com a torrente de seiva que inunda o mundo
de polo a polo.
Foi-se, e à tarde apareceu-me com um belo poema.
Foi-se, e à tarde apareceu-me com um belo poema.
Miguel Torga,
1907 — 1995
Nascido em Portugal e um
Destacou-se como poeta,
contista e memorialista, mas escreveu também romances,
peças de teatro e ensaios.
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Sarau
de Abril
Nesta
quarta
19:30
horas
Casa
da Cultura
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