terça-feira, 26 de abril de 2016



A maravilha da vida é tudo nela ter justificação

Desabafo dum amigo, que não encontra justificação para o seu pecado mortal, que é viver. Viver ao sol, gratuitamente, como um lagarto.

 Respondi-lhe que a maravilha da vida é tudo nela ter justificação. É, da mais rasteira erva ao mais nojento bicho, não haver presença no mundo que não seja necessária e insubstituível.

 Que, do contrário, era faltar na terra esta admirável plurivalência, que faz de uma tarde de sol, de trigo e de cigarras o mais assombroso espetáculo que se pode ver.

O medir depois a distância que vai da formiga ao leão, da urtiga ao castanheiro, de Nero a S. Francisco de Assis, é uma casuística que não tem nada que ver com a torrente de seiva que inunda o mundo de polo a polo.
Foi-se, e à tarde apareceu-me com um belo poema. 


Miguel Torga, 
1907 — 1995
Nascido em Portugal e um
dos mais influentes poetas e escritores do século XX,  
Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.

 Foi laureado com o Prémio Camões de 1989, o mais importante da língua portuguesa.

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Sarau de Abril
Nesta quarta
19:30 horas
Casa da Cultura



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