quinta-feira, 18 de agosto de 2016




O Segredo dos Seres e do Mundo

Sentia-me à vontade em tudo, isso é verdade, mas ao mesmo tempo nada me satisfazia. Cada alegria fazia-me desejar outra. Ia de festa em festa.

Acontecia-me dançar noites a fio, cada vez mais louco com os seres e com a vida. Por vezes, já bastante tarde, nessas noites em que a dança, o álcool leve, o meu desenfreamento, o violento abandono de cada qual, me lançavam para um arroubo ao mesmo tempo lasso e pleno, parecia-me, no extremo da fadiga e no lapso de um segundo, compreender, enfim, o segredo dos seres e do mundo.

Mas a fadiga desaparecia no dia seguinte e, com ela, o segredo; e eu atirava-me outra vez. 

Albert Camus
1913 - 1960

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SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e Cultura


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