terça-feira, 18 de outubro de 2016


Às Vezes, Parece Poesia

Distraído

Lá estão os urubus sobrevoando
o corpo decomposto,
enquanto os ratos se chafurdam no sangue coagulado,

Ao lado, sentado no banco de ferros retorcidos
a garota segura a boneca de trapos coloridos
e a mulher rota se enrola
nas folhas do jornal
que estampa a foto do santo sacrificado

Ao longe, artefatos detonados
destroem a fachada da loja
que vende quinquilharias importadas,
no instante em que o bêbado declama
a poesia de Carlos Drummond
para a extasiada platéia de putas e gigolôs
e no alto do edifício que abriga agentes do mercado
o homem ameaça voar para o infinito

Neste cenário insólito caminho distraído,
de mãos dadas com a solidão.

Jorge Nicoli
Que, às vezes, se vê poeta

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"Sábia Indecisão”
Mais Que Um Grupo de Teatro




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