sexta-feira, 21 de outubro de 2016



Viver é não Saber que se Vive


Ponho-me, às vezes, a olhar para o espelho e a examinar-me, feição por feição: os olhos, a boca, o modelado da fronte, a curva das pálpebras, a linha da face... E esta amálgama grosseira e feia, grotesca e miserável, saberia fazer versos? Ah, não! Existe outra coisa... mas o quê?

Afinal, para que pensar? Viver é não saber que se vive. Procurar o sentido da vida, sem mesmo saber se algum sentido tem, é tarefa de poetas e de neurastênicos.

Só uma visão de conjunto pode aproximar-se da verdade. Examinar em detalhe é criar novos detalhes.

Por debaixo da cor está o desenho firme e só se encontra o que se não procura. Porque me não esqueço eu de viver... para viver? 


Florbela Espanca
Poeta nascida em Portugal
1896 - 1930

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"Sábia Indecisão”
Mais Que Um Grupo de Teatro




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