Viver
é não Saber que se Vive
Ponho-me, às vezes, a olhar
para o espelho e a examinar-me, feição por feição: os olhos, a boca, o modelado
da fronte, a curva das pálpebras, a linha da face... E esta amálgama grosseira
e feia, grotesca e miserável, saberia fazer versos? Ah, não! Existe outra
coisa... mas o quê?
Afinal, para que pensar?
Viver é não saber que se vive. Procurar o sentido da vida, sem mesmo saber se
algum sentido tem, é tarefa de poetas e de neurastênicos.
Só uma visão de conjunto
pode aproximar-se da verdade. Examinar em detalhe é criar novos detalhes.
Por debaixo da cor está o
desenho firme e só se encontra o que se não procura. Porque me não esqueço eu
de viver... para viver?
Florbela Espanca
Poeta nascida em Portugal
1896 - 1930
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"Sábia
Indecisão”
Mais
Que Um Grupo de Teatro
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