quarta-feira, 19 de outubro de 2016


O Eterno é a Própria Vida



Segundo a expressão de Lavelle, a morte dá “a todos os acontecimentos que a precederam esta marca do absoluto que nunca possuiriam se não viessem a interromper-se”.
O absoluto habita em cada uma das nossas empresas, na medida em que cada uma se realiza de uma vez para sempre e não será nunca recomeçada. Entra na nossa vida através da sua própria temporalidade. Assim o eterno torna-se fluido e reflui do fim ao coração da vida.

A morte já não é a verdade da vida, a vida já não é a espera do momento em que a nossa essência será alterada. O que há sempre de incoativo, de incompleto e de constrangedor no presente não é já um sinal de menor realidade. 


Mas então a verdade de um ser já não é aquilo em que se tornou no fim ou a sua essência, mas o seu devir ativo ou a sua existência. E se, como Lavelle dizia em tempos, nos julgamos mais perto dos mortos que amamos do que dos vivos, é porque já nos não põem em dúvida e daqui para o futuro podemos sonhá-los a nosso gosto. Esta piedade é quase ímpia.

A única recordação que lhes diz respeito é a que se refere ao uso que faziam de si próprios e do seu mundo, o acento da sua liberdade na incompletude da vida. O mesmo frágil princípio faz-nos viver e dá ao que fazemos um sentido inesgotável. 


Maurice Merleau-Ponty
Filósofo, nascido na França
1908 - 1961

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"Sábia Indecisão”
Mais Que Um Grupo de Teatro





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