Será Coincidência?
Hoje, dia 24 de junho,
dia de São João, me vem à lembrança de quando era criança e que, na véspera,
meus olhos se voltavam para o céu acompanhando a subida dos balões, que iriam
cair em alguma mata ou num descampado.
Talvez em cima de um telhado. Não sei se os iluminados balões provocavam
grandes incêndios, se os provocavam, nunca fiquei sabendo, como nunca soube de
danificação em rede elétrica.
De repente se proíbe
soltar balões para evitar grandes incêndios e proteger a rede elétrica. Agora, ninguém
irá mais cantar “cai cai balão, cai cai balão, aqui na minha mão”. Não há mais balões
nos céus.
Lembrando-me dos balões
proibidos, lembrei-me que, quando
menino, bebia leite, que vinha num recipiente transparente, trazido numa
carroça. Leite tirado da vaca, puro, repleto de gordura que, fervido, era só
nata. Nunca soube de alguém que tivesse morrido ou adoecido por ter ingerido
tal bebida.
Hoje, nem pensar em tal
absurdo. Leite, só em saquinho ou em caixinhas, homogeneizado e higienizado. Sem
gordura, sem nata, sem gosto. Tudo em nome da saúde da população, bebedora de
leite, embora os saquinhos sejam de plástico e as caixinhas feitas de material
que demora um século para decompor.e
próprio para a fabricação de telhas.
Naqueles tempos de
criança, também se consumia carnes, provenientes de matadouros municipais, se
cozinhava com banha de porco, nada de homogeneização nem higienização e eu não
tive notícias de alguém doente ou morto por consumir tais alimentos. Na
realidade um amigo faleceu vítima de um verme proveniente da carne de porco, que
alojou em sua cabeça. Ninguém mais.
Perdi a conta de quantos
cortes tive no pé, conseqüência do andar descalço pelos campos, arames
farpados, cacos de vidro e jamais tomei uma anti-tetânica. Continuo vivo.
E por ai vão minhas
lembranças daqueles tempos em que a paranóia asséptica não tinha tomado conta do
Brasil. Se alega que os cuidados de hoje são conseqüência do crescimento da resistência
dos vermes e bactérias, que sofreram mutação e, talvez, do enfraquecimento da
resistência humana.
Interessante é que esta
paranóia apareceu na medida em que cresce o agro-negócio e acontece a expansão
da indústria alimentícia. Bem, pode ser uma simples coincidência.
Jorge Nicoli
Que não come carne nem
bebe leite
=======================
SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e
Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário