sexta-feira, 24 de junho de 2016


Será Coincidência?

Hoje, dia 24 de junho, dia de São João, me vem à lembrança de quando era criança e que, na véspera, meus olhos se voltavam para o céu acompanhando a subida dos balões, que iriam cair em alguma mata ou  num descampado. Talvez em cima de um telhado. Não sei se os iluminados balões provocavam grandes incêndios, se os provocavam, nunca fiquei sabendo, como nunca soube de danificação em rede elétrica.

De repente se proíbe soltar balões para evitar grandes incêndios e proteger a rede elétrica. Agora, ninguém irá mais cantar “cai cai balão, cai cai balão, aqui na minha mão”. Não há mais balões nos céus.

Lembrando-me dos balões proibidos,  lembrei-me que, quando menino, bebia leite, que vinha num recipiente transparente, trazido numa carroça. Leite tirado da vaca, puro, repleto de gordura que, fervido, era só nata.  Nunca soube de alguém que  tivesse morrido ou adoecido por ter ingerido tal bebida.

Hoje, nem pensar em tal absurdo. Leite, só em saquinho ou em caixinhas, homogeneizado e higienizado. Sem gordura, sem nata, sem gosto. Tudo em nome da saúde da população, bebedora de leite, embora os saquinhos sejam de plástico e as caixinhas feitas de material que demora  um século para decompor.e próprio para a fabricação de telhas.

Naqueles tempos de criança, também se consumia carnes, provenientes de matadouros municipais, se cozinhava com banha de porco, nada de homogeneização nem higienização e eu não tive notícias de alguém doente ou morto por consumir tais alimentos. Na realidade um amigo faleceu vítima de um verme proveniente da carne de porco, que alojou em sua cabeça. Ninguém mais.

Perdi a conta de quantos cortes tive no pé, conseqüência do andar descalço pelos campos, arames farpados, cacos de vidro e jamais tomei uma anti-tetânica. Continuo vivo.

E por ai vão minhas lembranças daqueles tempos em que a paranóia asséptica não tinha tomado conta do Brasil. Se alega que os cuidados de hoje  são conseqüência do crescimento da resistência dos vermes e bactérias, que sofreram mutação e, talvez, do enfraquecimento da resistência humana.

Interessante é que esta paranóia apareceu na medida em que cresce o agro-negócio e acontece a expansão da indústria alimentícia. Bem, pode ser uma simples coincidência.

Jorge Nicoli
Que não come carne nem bebe leite

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SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e Cultura



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