A Nossa Vitória de cada Dia
Olhe para todos ao seu
redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de
cada dia.
Não temos amado, acima
de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos
passar por tolos.
Temos amontoado coisas e
seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não
tenha sido catalogada.
Temos construído
catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos
construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos,
pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens
medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou
sem soda.
Temos procurado nos salvar
mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura
de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em
segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível.
Muitos de nós fazem arte
por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa
indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos
disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no
que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos
falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e
para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não
ficarmos perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público
do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a
nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso
consideramos a vitória nossa de cada dia.
Clarice Lispector
1920 – 1977
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Sábia Indecisão
Muito Mais Que Um Grupo de Teatro
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.
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