Amor com Incompreensão
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático
errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando
as incompreensões, é que se ama verdadeiramente.
Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar
é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade
ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda.
E é também porque sempre fui de brigar muito, meu
modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não
sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é.
É porque ainda sou eu mesma, e então o castigo é
amar um mundo que não é ele. É também porque me ofendo à toa. É porque talvez
eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa.
Clarice Lispector
Que nasceu dia 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia,
mas se fez brasileira
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