Cadê Eu?
Cadê eu? perguntava-me. E quem respondia era uma
estranha que me dizia fria e categoricamente: tu és tu mesma. Aos poucos, à
medida que deixei de me procurar fiquei distraída e sem intenção alguma.
Eu sou hábil em formar teoria. Eu, que
empiricamente vivo. Eu dialogo comigo mesma: exponho e me pergunto sobre o que
foi exposto, eu exponho e contesto, faço perguntas a uma audiência invisível e
esta me anima com as respostas a prosseguir.
Quando eu me olho de fora para dentro eu sou uma
casca de árvore e não a árvore. Eu não sentia prazer. Depois que eu recuperei
meu contato comigo é que me fecundei e o resultado foi o nascimento alvoroçado
de um prazer todo diferente do que chamam prazer.
Clarice Lispector
Nascida em 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia.
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