Memórias
Em 2015 entramos no
cinqüentenário da segunda metade dos emblemáticos anos 60. No primeiro ano do
golpe que derrubou o Presidente João Goulart. Primeiro aniversário de uma
ditadura que iria ficar um bom tempo neste rincão. Neste ano ainda havia uma
esperança de que breve os militares devolveriam o que usurparam.
Só que em outubro
daquele ano eles resolvem acabar com a brincadeira de democracia. Ainda se
brincava de democracia, no calendário,
as eleições estavam previstas para
Presidente que, com o fim da brincadeira foram adiada ad eternum, as demais
realizadas normalmente. Perderam, mudaram as regras, acabou a brincadeira.
Fecham sedes de partidos, cassam mais alguns políticos, intervém no Judiciário,
e criam as eleições indiretas..
Mas ainda assim há
brechas para um show aqui, outro ali, um movimento de protesto lá, um outro
acolá. Só não pode ser comunista. Não
sendo pode compor, ir para os palcos, atuar, cantar. Pode até cantar nos festivais
que iniciam num Canal de TV.
Primeiro lugar para a canção falando em Iemanjá, em
Santa Bárbara – Iansã - , Janaina, defendida por um quase menina vindo do Sul.
Cantava e girava os braços como se quisesse voar. E voou muito alto, embora num
vôo de pouca duração. O mesmo Canal que,
nas tardes de domingo, transmite jogos do Campeonato que se assist nos aparelhos de algumas lojas
de eletro-domésticos.
Aparelho em casa era
para poucos. Um campeonato que só tem graças porque tem grandes craques, porém
com o final esperado, sempre o time da praia chega na frente.
Aí a Federação resolve
proibir a transmissão dos jogos e o dono do canal corre atrás de um jovem
cantor para comandar uma atração para a juventude. Acerta em cheio e as tardes
de domingo é da jovem guarda, e pela telinha em preto e branco desfila o Rei, o
Tremendão, a Ternutinha, o Bom, o Queijinho de Minas e outros cabeludos e
garotas papo firme menos famosos.
Programa tão importante
que chega a mudar certos comportamentos de jovens. Como muda o rock. Saem as
versões americanas dando lugar a um iê-iê-iê tupiniquim, claramente
influenciado por quatro cabeludos da Terra da Rainha.
Só os ativistas
políticos não gostam, para eles, um bando de alienados fazendo o jogo da
ditadura.
Cinqüenta anos depois,
talvez se possa fazer uma avaliação mais isenta. Eram apenas alguns jovens que
queriam cantar, uma oportunidade para serem famosos e ricos. Uns conseguiram,
outros desapareceram na poeira do tempo.
Falando em alienação,
começa a tomar corpo uma rede de televisão, apoiada pelos militares, com
dinheiro público e de grupo de comunicação de amigos do Norte.
E a Rede foi estendendo
seus tentáculos e divulgando a mensagem dos ditadores.
Lembrando dos amigos do
Norte, que adoram se meter onde não são chamados, se envolvem então numa luta
inglória e patética, onde usam armas químicas. Vão como heróis e voltam como
bandidos trapalhões.
Na política, partidos
extintos e, a ditadura resolve voltar a brincar de democracia e criam dois
partidos, um de situação, que caberia defender o ideário da tal “revolução” e
um de oposição que deveriaa ser do contra.
Mas dentro das regras
estabelecidas pelos donos do poder. Nada de exagero.
Nestes anos a ditadura
ainda não mostra sua face mais cruel, a censura é branda, por isso os artistas ainda gritam. Além de shows, uns
patrocinados pelo ditador de plantão, outros para contestar, há o teatro como
meio de lançar seu grito contra a falta de liberdade nesta Terra descoberta por Cabral. Os atores vão
para o palco gritar por liberdade, para isso usam a luta de Zumbi como
metáfora.
Liberdade tolhida.
Tempos sombrios, sufocantes, a arte castrada, a voz sufocada e as mãos
decepadas. O tempo não volta, mas o monstro ainda vive.
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