PENSAR COM
NIETZSCHE
Aprender a ver
Aprender a ver -
habituar os olhos à calma, à paciência, ao
deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e
a abarcar o caso particular a partir de todos os lados.
Este é o primeiro ensino
preliminar para o espírito:não reagir imediatamente a um estímulo,
mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam.
Aprender a ver, tal como
eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade
forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer»,
o poder diferir a decisão.
Toda a não-espiritualidade, toda a
vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — tem
que se reagir, seguem-se todos os impulsos.
Em muitos casos esse ter que é
já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza
afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade
fisiológica de não reagir. — Uma aplicação prática do
ter-aprendido-a-ver: enquanto discenteem geral, chegar-se-á a ser
lento, desconfiado, teimoso.
Ao estranho, ao novo de
qualquer espécie deixar-se-o-á aproximar-se com uma tranquilidade hostil, —
afasta-se dele a mão.
O ter abertas todas as portas, o
servil abrir a boca perante todo o fato pequeno, o estar sempre disposto a
meter-se, a lançar-se de um salto para dentro de outros homens
e outras coisas, em suma, a famosa «objectividade» moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático
par excellence.
Friedrich Nietzsche,
Friedrich Nietzsche,
que
nasceu em 15 de outubro de 1844
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