PENSAR
COM NIETZSCHE
A Fragilidade dos Valores
Todas
as coisas «boas» foram noutro tempo más; todo o pecado original veio a ser
virtude original.
O
casamento, por exemplo, era tido como um atentado contra a sociedade e
pagava-se uma multa, por ter tido a imprudência de se apropriar de uma mulher
(ainda hoje no Cambodja o sacerdote, guarda dos velhos costumes, conserva o jus
primae noctis).
Os
sentimentos doces, benévolos, conciliadores, compassivos, mais tarde vieram a
ser os «valores por excelência»; por muito tempo se atraiu o desprezo e se
envergonhava cada qual da brandura, como agora da dureza.
A
submissão ao direito: oh! que revolução de consciência em todas as raças
aristocráticas quando tiveram de renunciar à vingança para se submeterem ao
direito! O «direito» foi por muito tempo
um vetitum, uma inovação, um crime; foi instituído com violência e
opróbio.
Cada
passo que o homem deu sobre a Terra custou-lhe muitos suplícios intelectuais e
corporais; tudo passou adiante e atrasou todo o movimento, em troca teve
inumeráveis mártires; por estranho que isto hoje nos pareça, já o demonstrei na Aurora,
aforismo 18: «Nada custou mais caro do que esta migalha de razão e de
liberdade, que hoje nos envaidece». Esta mesma vaidade nos impede de considerar
os períodos imensos da «moralização dos costumes» que precederam a história
capital e foram a verdadeira história, a história capital e decisiva que fixou
o caráter da humanidade.
Então
a dor passava por virtude, a vingança por virtude, a renúncia da razão por
virtude, e o bem-estar passivo por perigo, o desejo de saber por perigo, a paz
por perigo, a misericórdia por opróbio, o trabalho por vergonha, a demência por
coisa divina, a conversão por imoralidade e a corrupção por coisa excelente.
Friedrich
Nietzsche,
que nasceu em 15 de outubro de 1844
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Lingüiça de carne suína
Qualidade e sabor diferenciado
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