sexta-feira, 30 de outubro de 2015



Memórias

Em 2015 entramos no cinqüentenário da segunda metade dos emblemáticos anos 60. No primeiro ano do golpe que derrubou o Presidente João Goulart. Primeiro aniversário de uma ditadura que iria ficar um bom tempo neste rincão. Neste ano ainda havia uma esperança de que breve os militares devolveriam o que usurparam.
Só que em outubro daquele ano eles resolvem acabar com a brincadeira de democracia. Ainda se brincava de democracia,  no calendário, as eleições  estavam previstas para Presidente que, com o fim da brincadeira foram adiada ad eternum, as demais realizadas normalmente. Perderam, mudaram as regras, acabou a brincadeira. Fecham sedes de partidos, cassam mais alguns políticos, intervém no Judiciário, e criam as eleições indiretas..
Mas ainda assim há brechas para um show aqui, outro ali, um movimento de protesto lá, um outro acolá. Só não pode  ser comunista. Não sendo pode compor, ir para os palcos, atuar, cantar. Pode até cantar nos festivais que iniciam num Canal  de TV. 
Primeiro  lugar para a canção falando em Iemanjá, em Santa Bárbara – Iansã - , Janaina, defendida por um quase menina vindo do Sul. Cantava e girava os braços como se quisesse voar. E voou muito alto, embora num vôo de pouca duração. O mesmo Canal  que, nas tardes de domingo, transmite jogos do Campeonato  que se assist nos aparelhos de algumas lojas de eletro-domésticos.
Aparelho em casa era para poucos. Um campeonato que só tem graças porque tem grandes craques, porém com o final esperado, sempre o time da praia chega na frente.
Aí a Federação resolve proibir a transmissão dos jogos e o dono do canal corre atrás de um jovem cantor para comandar uma atração para a juventude. Acerta em cheio e as tardes de domingo é da jovem guarda, e pela telinha em preto e branco desfila o Rei, o Tremendão, a Ternutinha, o Bom, o Queijinho de Minas e outros cabeludos e garotas papo firme menos famosos.
Programa tão importante que chega a mudar certos comportamentos de jovens. Como muda o rock. Saem as versões americanas dando lugar a um iê-iê-iê tupiniquim, claramente influenciado por quatro cabeludos da Terra da Rainha.
Só os ativistas políticos não gostam, para eles, um bando de alienados fazendo o jogo da ditadura.
Cinqüenta anos depois, talvez se possa fazer uma avaliação mais isenta. Eram apenas alguns jovens que queriam cantar, uma oportunidade para serem famosos e ricos. Uns conseguiram, outros desapareceram na poeira do tempo.
Falando em alienação, começa a tomar corpo uma rede de televisão, apoiada pelos militares, com dinheiro público e de grupo de comunicação de amigos do Norte.
E a Rede foi estendendo seus tentáculos e divulgando a mensagem dos ditadores.
Lembrando dos amigos do Norte, que adoram se meter onde não são chamados, se envolvem então numa luta inglória e patética, onde usam armas químicas. Vão como heróis e voltam como bandidos trapalhões.
Na política, partidos extintos e, a ditadura resolve voltar a brincar de democracia e criam dois partidos, um de situação, que caberia defender o ideário da tal “revolução” e um de oposição que deveriaa ser do contra.
Mas dentro das regras estabelecidas pelos donos do poder. Nada de exagero.
Nestes anos a ditadura ainda não mostra sua face mais cruel, a censura é branda, por isso  os artistas ainda gritam. Além de shows, uns patrocinados pelo ditador de plantão, outros para contestar, há o teatro como meio de lançar seu grito contra a falta de liberdade  nesta Terra descoberta por Cabral. Os atores vão para o palco gritar por liberdade, para isso usam a luta de Zumbi como metáfora.
Liberdade tolhida. Tempos sombrios, sufocantes, a arte castrada, a voz sufocada e as mãos decepadas. O tempo não volta, mas o monstro ainda vive.

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