terça-feira, 11 de agosto de 2015





Lá está a Virgem de braço abertos para receber a morte, lá está o corpo apodrecendo na viela escura. Sentados sobre o túmulo de mármore branco, que abriga a burguesia, garotos jogam dados, sob os olhares de um Mártir, dependurado no ipê roxo. Apostam a vida.

Lá está a cruz de ferro retorcido à espera do Cristo Redentor, lá estão os hipócritas a se empanturrarem com as carnes ensangüentadas das vacas sagradas. Nos céus em cores rubras, os urubus fazem acrobacias, enquanto na terra os ratos disputam os restos do corpo apodrecido.
  
Lá está o sangue escorrendo pelas calhas, lá estão os vampiros se saciando nas veias das donzelas. No mastro tremula a bandeira encardida dos soldados mutilados de Deus, que voltaram da batalha contra os guerreiros de Satã. Guerra santa sem fim.
  
Lá estão os homens de posse a se servirem das terras que não lhes pertencem, lá está a justiça caolha a servir os doutores. Pelo caminho enlameado por sangue de inocentes um exército sem causa marcha para lugar algum.
  
Lá estou eu a sonhar com fadas e ninfas, lá está a morte a me seduzir.


Jorge Nicoli
  

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