Viver é não saber
que se vive
Ponho-me, às vezes, a olhar para o
espelho e a examinar-me, feição por feição: os olhos, a boca, o modelado da
fronte, a curva das pálpebras, a linha da face...
E esta amálgama grosseira e feia,
grotesca e miserável, saberia fazer versos? Ah, não! Existe outra coisa... mas
o quê? Afinal, para que pensar? Viver é não saber que se vive. Procurar o
sentido da vida, sem mesmo saber se algum sentido tem, é tarefa de poetas e de
neurastênicos. Só uma visão de conjunto pode aproximar-se da verdade.
Examinar em detalhe é criar novos
detalhes. Por debaixo da cor está o desenho firme e só se encontra o que se não
procura. Porque me não esqueço eu de viver... para viver?
Florbel Espanca
,poetisa, nascida em Portugal, A sua vida, de
apenas trinta e seis anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de
sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta
qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.
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SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e Cultura
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