Queremos homens completos ou meros cidadãos?
A educação atual e as atuais
conveniências sociais premiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições
modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades
socialmente valiosas.
A existência do resto da
personalidade ou é ignorada ou, se admitida, é admitida somente para ser
deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada.
Sobre todas as tendências humanas que
não conduzem à boa cidadania, a moralidade e a tradição social pronunciam uma
sentença de banimento.
Três quartas partes do Homem são
proscritas. O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os
homens são criados para serem cidadãos e nada mais, tornam-se, primeiro, em
homens imperfeitos e depois em homens indesejáveis.
A insistência nas qualidades
socialmente valiosas da personalidade, com exclusão de todas as outras, derrota
finalmente os seus próprios fins.
O atual desassossego,
descontentamento e incerteza de propósitos testemunham a veracidade disto. Tentamos
fazer homens bons cidadãos de estados industriais altamente organizados: só
conseguimos produzir uma colheita de especialistas, cujo descontentamento em
não serem autorizados a ser homens completos faz deles cidadãos extremamente
maus.
Há toda a razão para supor que o
mundo se tornará ainda mais completamente tecnicizado, ainda mais
complicadamente arregimentado do que é presentemente; que graus cada vez mais
elevados de especialização serão requeridos dos homens e mulheres individuais.
O problema de reconciliar as reivindicações do homem e do
cidadão tornar-se-á cada vez mais agudo. A solução desse problema será uma das
principais tarefas da educação futura. Se irá ter êxito, e até mesmo se o êxito
é possível, somente o evento poderá decidir.
Aldous Huxley
Aldous Huxley
Escritor,
nascido na Inglaterra e um dos mais proeminentes membros da família Huxley. Passou parte da sua
vida nos Estados Unidos.
Mais conhecido pelos
seus romances,
como Admirável Mundo Novo e diversos ensaios,
também editou a revista Oxford Poetry e publicou contos, poesias, literatura de viagem e guiões de filmes.
Foi um entusiasta do uso
responsável do LSD como catalisador dos
processos mentais do indivíduo, em busca do ápice da condição humanae de maior
desenvolvimento das suas potencialidades.
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SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e Cultura
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