Por uma teoria
do estado de exceção na linguagem
(Trecho)
O
poder do discurso, entendido como fala pré-estabelecida em nome da verdade,
advém de seu ocultamento como tal. Em outras palavras, fala-se da vida como se
estivesse a falar da própria coisa, e não de uma palavra que, ela mesma, é já
conceito e, como tal, sempre elaborado, re-elaborável e passível de discussão.
A
palavra, por mais que se agregue à coisa, que se diga em nome
de algo,
não é a própria coisa à qual alude ainda que as próprias coisas precisem dela
para chegar à cultura. Por isso, nos dias atuais, enganamo-nos ao discutir a
vida – este amplo e inespecífico conceito que vai da natureza à cultura, da
mera vida às suas formas e que como idéia é aquilo dentro do que estamos.
Disputamos
quem vence no contexto da crença para saber quem deterá o poder dos que podem
crer (seja no que for que creiam, na ciência ou na religião). A pergunta a ser
feita neste momento histórico é – para além do sexo dos anjos, da alma das
mulheres ou da “vida” dos embriões – se poderíamos discutir o conceito de vida
sabendo que se trata apenas de um conceito e, assim, ultrapassar a retórica e o
desejo de persuadir e libertar a verdade à qual apenas uma disputa honesta de
conceitos poderia nos levar. A questão seria precisar em que sentido a palavra
é usada a cada vez que, como uma bandeira, é erguida em
nome de guerra ou de paz.
Márcia Tiburi
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