A missão de continuar a vida
Ninguém se pode possuir inteiramente, porque se
ignora, porque somos um mistério.
Para nós mesmos.
Podemos sim, ser mais conscientes de uma
determinada missão que temos no mundo. Todos nós somos uma missão. Somos a
missão de continuar a vida, aperfeiçoando-a, festejando-a e não destruindo-a
como se está a fazer hoje.
Eu não tenho certezas, mas tenho convicções e uma
das minhas convicções mais firmes é que nascemos para a liberdade. E, no
entanto, veja o paradoxo: essa liberdade, esse caminho para a liberdade está a
ser cada vez mais obscurecido por aquilo que observamos no nosso mundo de hoje.
Nós chegamos a esta coisa terrível, o chamado
equilíbrio nuclear, que é o jogo de escondidas de duas disponibilidades
criminosas para suprimir a humanidade.
A humanidade está hoje pronta (parece que está
sempre pronta!) para pôr luto por si própria. Isto não é uma forma humana de
viver. Esta tragédia tem que ser a sua «húbris», que é, digamos, a arrogância
que desencadeia a catástrofe punitiva.
E o que me perturba muito, o que me assusta, é que
países que subscrevem, que proclamam os direitos humanos, possam entrar num
jogo fatal destes, um jogo que se destina a suprimir o homem.
Natália Correia
1923/1993
Poeta nascida em
Portugal
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