A necessidade do próximo
Nós só sentimos agrado para com os semelhantes - ou seja pelas imagens
de nós próprios - quando sentimos comprazimento conosco.
E quanto mais estamos contentes conosco, mais detestamos o que nos é
estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que
temos por nós.
É em consequência dessa aversão que nós destruímos tudo o que é
estranho, ao qual assim mostramos o nosso distanciamento.
Mas o menosprezo por nós próprios pode levar-nos a uma compaixão geral
para com a humanidade e pode ser utilizado, intencionalmente, para uma
aproximação com os demais.
Temos necessidade do próximo para nos esquecermos de nós mesmos: o que
leva à sociabilidade com muita gente.
Somos dados a supor que também os outros têm desgosto com o que são;
quando isto se verifica, então receberemos uma grande alegria: afinal, estamos
na mesma situação.
E, talqualmente nos vemos forçados a suportar-nos, apesar do desgosto
que temos com aquilo que somos, assim nos habituamos a suportar os nossos
semelhantes.
Assim, nós deixamos de desprezar os outros; a aversão para com eles
diminui, e dá-se a reaproximação.
Eis porque, em virtude da doutrina do pecado e da condenação universal,
o homem se aproxima de si mesmo. E até aqueles que detêm efetivamente o poder
são de considerar, agora como dantes, sob este mesmo aspecto: é que, «no fundo,
são uns pobres homens».
Friedrich Nietzsche,
1844/1900
Filósofo nascido na
Alemanha
===============================
SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e
Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário