O Corinthians, os pobres
e os negros
Anos atrás, escrevi sobre o nazi-fascismo que, na minha
visão, campeia entre os torcedores de certos clubes.
Naquela ocasião, um deles tinha acabado de ganhar - com méritos - o título mundial inter-clubes e
vi seus torcedores gritando e destilando ódio contra o Corinthians, que não foi
o adversário vencido. Fiquei perplexo dado a virulência com que estes
torcedores se manifestavam.
A partir daí, comecei
a observar este comportamento, constatei
que todos os títulos – e não foram poucos - conquistados pelo Corinthians são contestados,
desqualificados e, acredite, criminalizados.
O futebol não é uma ciência exata, pode ser discutido,
contestado, mas vale só para um lado, o lado onde está uma grande massa de
pobres e de negros. Do outro lado, no inconsciente coletivo de seus torcedores,
estão os bem nascidos, com todos os dentes na boca. De um lado os
semi-alfabetizados, de outro, os acadêmicos. Aí se sustenta a minha tese, do
nazi-fascismo que grassa no esporte mais popular do planeta. Claro que há exceções, o que confirmam a
regra.
Este preconceito nasce da própria história do Corinthians, o
único grande clube brasileiro surgido da classe operária, debaixo de lampiões,
num tempo em que o futebol era coisa de ricos, em que negros nem podia assistir
aos jogos, e o Corinthians colocou negros e a periferia dentro dos campos de futebol e a petulância de se batizar com um
nome inglês. Um time de periferia chamar-se Sport Club Corinthians é muita
ousadia. Ousadia que o fez ser grande, que o fez amealhar uma enorme massa de torcedores pelo Brasil afora,
que o fortaleceu para se ombrear à elite do futebol. Isso é insuportável para essa gente bem
nascida que, a qualquer derrota ou desclassificação, vai para às ruas comemorar
como se fosse um título.
Na realidade, esta classe não suporta a ascensão de pobres e de
negros, seja nos campos ou nas ruas.
Jorge Nicoli
Corintiano, avô da Letícia, do Leonardo e do Gabriel
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Boletim de Arte e
Cultura
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