sábado, 27 de janeiro de 2018


Uma noite vaga


Pela porta aberta vejo pousada no varal a ave noturna, fazendo companhia para os trapos em verde e amarelo e restos da mortalha de Cristo. Lá no alto Jorge timidamente sorri para a flor roxa do meu quintal. No quarto, meus vagos olhares vagueiam pelo vazio.

Um grito recorta o silêncio da noite e atravessa a parede do meu quarto. Um animal se esconde atrás da imagem de Nossa Senhora e um corpo jovem jaz caído entre as cruzes de madeira, enquanto a vela se consome no altar central.


Alheio a tudo, e protegido por lobos e raposas, o mendigo dorme nas ruínas do coreto da praça que leva o nome do Padroeiro da conservadora e moralista cidade, Jorge se esconde atrás da nuvem negra

Enquanto isso, eu me acomodo no vazio do quarto, com vagos pensamentos sobre o nada.



Jorge Nicoli

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