Vejo, logo Existo
Sou um visual. O
que na memória trago, trago-o visualmente, se susceptível é de assim ser
trazido. Mesmo ao querer evocar em mim uma qualquer voz, um perfume qualquer,
não evito que antes que ela ou ele me vislumbre no horizonte do espírito, me
apareça à visão rememorativa a pessoa que fala, a coisa donde o perfume partiu.
Não dou isto por
absolutamente certo; pode ser que, radicada em mim de vez a persuasão de que
sou um visual, no lugar final do sofisma que é a escuridão íntima do ser me
fosse desde então impossível evitar que a ideia de que sou um visual não
levantasse imediatamente uma imagem falsamente inspiradora. Seja como for, o
menos que sou, é um visual predominantemente. Vejo, e vendo, vivo.
Fernando
Pessoa
Nascido em
Portugal em 1888
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