Novo Ano
Eu
desejaria que o Novo Ano trouxesse no ventre morte, peste e guerra. Morte à
senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código
cultural que age sobre os grupos e os transforma em coletividades emocionais;
guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver
com a cultura em si mesma.
Eu
desejaria que o Novo Ano trouxesse nos braços a vida, a energia e a paz. Vida o
suficientemente despersonalizada no caudal urbano para que os desvios
individuais não sejam convite ao eterno controle e expressão das pessoas;
energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado
afetivo é mais forte do que a ação; paz para os homens de boa e de má vontade.
Agustina Bessa
Escritoram nascida em
Portugal em 1922
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