quinta-feira, 25 de janeiro de 2018



Novo Ano


Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse no ventre morte, peste e guerra. Morte à senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código cultural que age sobre os grupos e os transforma em coletividades emocionais; guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver com a cultura em si mesma.

Eu desejaria que o Novo Ano trouxesse nos braços a vida, a energia e a paz. Vida o suficientemente despersonalizada no caudal urbano para que os desvios individuais não sejam convite ao eterno controle e expressão das pessoas; energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado afetivo é mais forte do que a ação; paz para os homens de boa e de má vontade.


Agustina Bessa
Escritoram nascida em Portugal em 1922


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