Antes de
começar *
Dentre alguns dos meus vícios, está o de escrever. Pode parecer
estranho considerar o ato de escrever como vício, porém para mim o é, pois é
compulsivo, fundamental para minha sanidade. O ato de escrever é afrodisíaco,
desperta-me da inércia, revigora.
Hoje, estranhamente, acordei sem nenhuma vontade de escrever,
tomado por uma preguiça felina mal tenho coragem para pensar, quanto mais me
postar diante do computador e anotar o quer que seja. O dia taciturno,
sorumbático, pode ser a causa desta letargia. Não sei, mesmo porque já produzi
algumas boas coisas em dias assim.
Quem sabe, tenha desistido de me apaixonar. A paixão que tem sido
o combustível para os meus recentes arroubos literários, mas, não raro, fujo do
romantismo enveredando pelos caminhos surreais.
Quem sabe seja apenas um esgotamento temporário, natural no ser
humano, mesmo o escritor acreditando não o ser. Como em mim é um vício, não
escrever significa crise de abstinência, com tremor, inquietude, angústia
tomando conta do meu ser. Avento a hipótese de ter perdido a inspiração, o que
me levaria à loucura. Escrever, para mim, é um caso de sobrevivência. Mas que
preguiça!
Deitado, vou esperar o dia acabar, aguardar que amanhã reencontre
a inspiração e termine o texto mesmo antes de começar.
(*
música de Paulinho Moska)
Jorge Nicoli
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