As Desvantagens
das Nossas Paixões
Quanto mais um
homem se emaranha numa paixão, tanto mais os acontecimentos, em si
indiferentes, se traduzem para ele em dor, enganando justamente, pela sua
indiferença, a avidez tensa em que esse homem se encontra. Um ambicioso sofrerá
porque uma pessoa célebre não lhe reconheceu importância; essa mesma pessoa
célebre tentará insuflar escrúpulos de tentação a algum evangélico de quem
procurará a conversação; escrúpulos que, por sua vez, irritarão um
individualista, que será atingido por eles, malgrado seu.
A inveja, ambição
ruminada, está na base de todas as angústias que sofremos. Não toleramos que
uma coisa aconteça indiferentemente, por acaso, escapando à nossa chancela.
Qualquer gênero de fervor acarreta consigo a tendência para sentir uma lei preestabelecida na vida, uma lei que castiga os que abusam ou descuram esse mesmo fervor. Um estado de paixão - mesmo que fosse a embriaguez da absoluta autodeterminação - organiza e anima de tal forma o Universo que toda a desgraça, parece, depois, provocada por uma ruptura do equilíbrio vital dessa paixão difusa, que, assim, se defende como um corpo vivo.
Qualquer gênero de fervor acarreta consigo a tendência para sentir uma lei preestabelecida na vida, uma lei que castiga os que abusam ou descuram esse mesmo fervor. Um estado de paixão - mesmo que fosse a embriaguez da absoluta autodeterminação - organiza e anima de tal forma o Universo que toda a desgraça, parece, depois, provocada por uma ruptura do equilíbrio vital dessa paixão difusa, que, assim, se defende como um corpo vivo.
E, segundo o
temperamento de cada um, teremos a sensação de que abusamos, ou de que fomos
inferiores; de qualquer forma, sentir-nos-emos organicamente punidos
pela própria lei da paixão e do Universo.
O que quer dizer
que todo o fervor acarreta consigo a convicção supersticiosa de ter de prestar
contas à própria lógica das coisas. Mesmo o fervor de um ateu pela
transcendência de uma lei.
Cesare Pavese
Cesare Pavese
Escritor. Nascido na Itália em 1908
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