Disritmia *
Lá
estão as nuvens escuras a passearem pelos céus. Umas frestas azuis teimam em
aparecer, por entre a escuridão. Os urubus que antes vagavam pelo espaço
resolvem aterrissar em algum ponto qualquer, enquanto isso, o sopro de Oxalá
limpa as ruas e desnuda as árvores. Os traços de fogo dão vida àquela paisagem
mórbida e as águas desabam sobre crentes e hereges, lavando-lhes o corpo e a alma.
A
donzela negra dança nua ao som de atabaques e de ganzás, com oferendas a Iansã,
que continua a riscar o negro das nuvens com fagulhas divinas.
O
garoto corre para se agarrar às saias da madona e mamãe Oxum ensina cantigas de
paz para as meninas, filhas de Iemanjá.
Velas marron e vermelha
iluminam os altares de Xangô e de Ogum e eu fujo do mundo deitando no colo da
Mater Pietá para adormecer minha santa insanidade.
(* música de
Martinho da Vila)
Jorge Nicoli
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