sábado, 13 de janeiro de 2018




Disritmia *

Lá estão as nuvens escuras a passearem pelos céus. Umas frestas azuis teimam em aparecer, por entre a escuridão. Os urubus que antes vagavam pelo espaço resolvem aterrissar em algum ponto qualquer, enquanto isso, o sopro de Oxalá limpa as ruas e desnuda as árvores. Os traços de fogo dão vida àquela paisagem mórbida e as águas desabam sobre crentes e hereges, lavando-lhes o corpo e a alma.

A donzela negra dança nua ao som de atabaques e de ganzás, com oferendas a Iansã, que continua a riscar o negro das nuvens com fagulhas divinas.

O garoto corre para se agarrar às saias da madona e mamãe Oxum ensina cantigas de paz para as meninas, filhas de Iemanjá.
Velas marron e vermelha iluminam os altares de Xangô e de Ogum e eu fujo do mundo deitando no colo da Mater Pietá para adormecer minha santa insanidade.

(* música de Martinho da Vila)

Jorge Nicoli

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