No trapézio
Entre tantos sonhos de
criança, sonhava em ser trapezista, fazer acrobacias pulando de trapézio em
trapézio, sonhava em segurar as mãos de uma linda mulher. Sonhava com os
olhares aflitos de centenas de espectadores, com os aplausos e o alívio na face
de cada um. Sonhos de criança, como era o de sonhar em pilotar um pássaro de
aço ou tocar um instrumento qualquer.
Sonhar em casar com aquela
garota muito mais velha que eu . Quando se é criança o que menos importa é a
idade. São os moços e os velhos. Quarenta anos é velho, vinte é moço, Velhos
são os pais, os tios, os avós, moços são os que estão perto da gente.
A gente cresce e aí nos
deparamos com os trapézios, não os de nossos sonhos infantis, mesmo sendo
invisíveis como aqueles, fazemos acrobacias, pulando de um para o outro, mas
não há as moças bonitas. As cordas não estão seguras por estruturas de metal. O
que as sustentam são mãos desconhecidas, como não há rede de proteção. Um
descuido e despencamos num abismo sem fim.
Não acordaremos depois do
pesadelo, como acontecia quando criança. Não abriremos os olhos e nem veremos
aquele maternal sorriso de toDas as manhãs.
Jorge Nicoli
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