A Natureza das Palavras
As palavras são parte da
imaginação, isto é, tal como fingimos muitos conceitos na medida em que,
vagamente, por alguma disposição do corpo, são compostos na memória, não se
deve duvidar de que também as palavras, como a imaginação, podem ser a causa de
muitos e grandes erros, se com elas não tivermos muita precaução.
Acrescente-se que são
formadas de acordo com o arbítrio e a compreensão do vulgo, de modo que não são
senão sinais das coisas como se acham na imaginação, mas não como estão no
intelecto.
O que claramente se vê
pelo fato de que a todas as coisas que estão só no intelecto e não na
imaginação puseram muitas vezes nomes negativos, como sejam, incorpóreo,
infinito, etc., e também muitas coisas que são realmente afirmativas exprimem
negativamente, e vice-versa, como são incriado, independente, infinito,
imortal, etc., porque, sem dúvida, muito mais facilmente imaginamos o contrário
disso, motivo pelo qual ocorreram antes aos primeiros homens e usaram nomes
positivos.
Muitas coisas afirmamos
e negamos porque a natureza das palavras leva a afirmá-lo ou negá-lo, mas não a
natureza das coisas; por isso, ignorando-a, facilmente tomaríamos algo falso
por verdadeiro.
Baruch Espinoza
Filósofo nascido na
Holanda em 1632
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