terça-feira, 28 de março de 2017

Divagando sobre a infelicidade

Nos anos 70, salvo engano, Maria Bethânia gravou uma composição  de Caetano Veloso, chamada Maria, que iniciava com ela dizendo algumas coisas e entre elas uma frase: “mais uma contribuição para o ócio daqueles que, com a infelicidade alheia compensa sua própria infelicidade”. Não sei se a frase era do Caetano ou de outro autor, o fato é que me chamou a atenção, tanto que quatro décadas depois ainda está na minha memória.

Na época eu e um amigo tentávamos entender a tal frase, filosofamos bastante, entramos  por vários caminhos à procura do entendimento, porém não chegamos à conclusão alguma e a frase ficou restrita às minhas lembranças. Não sei se na dele também , mas hoje talvez consiga entendê-la quando vejo em alguns canais de televisão programas policialescos que se esmeram em mostrar o mundo cão, com ares de “cenas da vida real”, assim como a mídia esgota seu repertório, supostamente investigativa, com reportagens sobre as tragédias urbanas.

Neles se concentram a infelicidade de muita gente e compensa a infelicidade do espectador que ávido sustenta a audiência, compensando, talvez inconscientemente, sua própria infelicidade.

Atitude que se repete quando as pessoas correm para testemunhar algumas outras tragédias humanas, onde há algo de mórbido na satisfação de saber que há alguém pior que elas.


                                               Xangô
Colaborador do Sopa de Cebola


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