Divagando sobre a infelicidade
Nos anos 70, salvo engano, Maria Bethânia gravou uma composição
de Caetano Veloso, chamada Maria, que iniciava com ela dizendo algumas
coisas e entre elas uma frase: “mais uma contribuição para o ócio daqueles que,
com a infelicidade alheia compensa sua própria infelicidade”. Não sei se a
frase era do Caetano ou de outro autor, o fato é que me chamou a atenção, tanto
que quatro décadas depois ainda está na minha memória.
Na época eu e um amigo tentávamos entender a tal frase,
filosofamos bastante, entramos por vários caminhos à procura do
entendimento, porém não chegamos à conclusão alguma e a frase ficou restrita às
minhas lembranças. Não sei se na dele também , mas hoje talvez consiga
entendê-la quando vejo em alguns canais de televisão programas policialescos
que se esmeram em mostrar o mundo cão, com ares de “cenas da vida real”, assim
como a mídia esgota seu repertório, supostamente investigativa, com reportagens
sobre as tragédias urbanas.
Neles se concentram a infelicidade de muita gente e compensa a
infelicidade do espectador que ávido sustenta a audiência, compensando, talvez
inconscientemente, sua própria infelicidade.
Atitude que se repete quando as pessoas correm para testemunhar
algumas outras tragédias humanas, onde há algo de mórbido na satisfação de
saber que há alguém pior que elas.
Xangô
Colaborador
do Sopa de Cebola
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