O Poder das Palavras
A humanidade entrará no
terceiro milénio sob o império das palavras. Não é verdade que a imagem esteja
a suplantá-las nem que possa extingui-las.
Pelo contrário, está a
potenciá-las: nunca houve no mundo tantas palavras com tanto alcance, autoridade
e arbítrio como na imensa Babel da vida atual.
Palavras inventadas,
maltratadas ou sacralizadas pela imprensa, pelos livros descartáveis, pelos
cartazes de publicidade; faladas e cantadas pela rádio, pela televisão, pelo
cinema, pelo telefone, pelos altofalantes públicos: gritadas à brocha nas
paredes da rua ou sussurradas ao ouvido nas penumbras do amor. Não: o grande
derrotado é o silêncio.
As coisas têm agora tantos
nomes em tantas línguas que já não é fácil saber como se chamam em nenhuma. Os
idiomas dispersam-se à rédea solta, misturam-se e confundem-se, desembestados
rumo ao destino inelutável de uma língua global.
Gabriel García Marquez
Escritor e jornalista,
Nobel/1982,
nascido na Colômbia em
1927
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