Aqui estou eu, me agarrando às sobras de um sonho, me enrolando nas dobras de minha eterna insensatez, soçobrando nas águas das lágrimas contidas.
Aqui estou eu, a lamentar o que não perdi, porquanto não tive, a lutar contra o constante assédio dos anjos do Senhor.
Aqui estou eu, a me embrenhar pelos caminhos tortuosos da insanidade, a tentar me livrar dos espinhos da coroa do Salvador.
E aqui estou eu, a me torturar por pensamentos tolos, mesmo porque vivo me perdendo em tolices.
Aqui estou eu, a cair em delírio, a não me encontrar nos emaranhados de minha solidão.
Aqui estou eu me jogando contra os muros invisíveis de minha incapacidade de entender o óbvio.
Aqui estou eu, a ouvir o eco de minha voz perdida nos vãos subterrâneos de dentro de mim.
Aqui estou eu, fragmentado, desconstruído a catar os pedaços espalhados pela minha incompletude, cego a tocar a alma paralisada. Aqui estou eu, perdido no mundo insano criado pela eterna procura do nada.
Jorge Nicoli
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