Amar Intensamente
De que vale no mundo ser-se inteligente, ser-se artista, ser-se alguém,
quando a felicidade é tão simples! Ela existe mais nos seres claros, simples,
compreensíveis e por isso a tua noiva de dantes, vale talvez bem mais que a tua
noiva de agora, apesar dos versos e de tudo o mais. Ela não seria exigente, eu
sou-o muitíssimo.
Preciso de toda a vida, de toda a alma, de todos os pensamentos do homem
que me tiver. Preciso que ele viva mais da minha vida que da vida dele. Preciso
que ele me compreenda, que me adivinhe. A não ser assim, sou criatura para
esquecer com a maior das friezas, das crueldades.
Eu tenho já feito sofrer tanto! Tenho sido tão má! Tenho feito mal sem
me importar porque quando não gosto, sou como as estátuas que são de mármore e
não sentem.
Florbela Espanca
Poetisa, nascida em
Portugal em 1894
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