O Amor pede
Identidade com Diferença
O amor pede identidade com diferença, o que é impossível já na lógica,
quanto mais no mundo. O amor quer possuir, quer tornar seu o que tem de ficar
fora para ele saber que se torna seu e não é.
Amar é entregar-se. Quanto maior a entrega, maior o amor. Mas a entrega
total entrega também a consciência do outro. O amor maior é por isso a morte,
ou o esquecimento, ou a renúncia - os amores todos que são os absurdiandos do
amor.
O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu,
como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um
ser alheio? Se sou já diferente daquele de quem sou idêntico, como serei
idêntico daquele de quem sou diferente? O amor é um misticismo que quer
praticar-se, uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada.
Fernando Pessoa,
Poeta, nascido em Portugal em 1888
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