Lá
Lá está a Virgem de braço
abertos para receber a morte, lá está o corpo apodrecendo na viela escura.
Sentados sobre o túmulo de mármore branco, que abriga a burguesia, garotos
jogam dados, sob os olhares de um Mártir, dependurado no ipê roxo. Apostam a
vida.
Lá está a cruz de ferro
retorcido à espera do Cristo Redentor, lá estão os hipócritas a se
empanturrarem com as carnes ensangüentadas das vacas sagradas. Nos céus em
cores rubras, os urubus fazem acrobacias, enquanto na terra os ratos disputam
os restos do corpo apodrecido.
Lá está o sangue escorrendo
pelas calhas, lá estão os vampiros se saciando nas veias das donzelas. No
mastro tremula a bandeira encardida dos soldados mutilados de Deus, que
voltaram da batalha contra os guerreiros de Satã. Guerra santa sem fim.
Lá estão os homens de posse a
se servirem das terras que não lhes pertencem, lá está a justiça caolha a
servir os doutores. Pelo caminho enlameado por sangue de inocentes um exército
sem causa marcha para lugar algum.
Lá estou eu a sonhar com fadas
e ninfas, lá está a morte a me seduzir.Lá estou eu a sonhar com fadas e ninfas, lá está a morte a me
seduzir
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