110 anos de Sartre
Antes de Vivermos,
a Vida é Coisa Nenhuma
O homem começa por
existir, isto é, o homem é de início o que se lança para um futuro e o que é
consciente de se projetar no futuro. O homem é primeiro um projeto que se vive
subjetivamente, em vez de ser musgo, podridão ou couve-flor; nada existe previamente
a esse projeto; nada existe no céu ininteligível, e o homem será em primeiro
lugar o que tiver projetado ser.
Não o que tiver querido ser. Porque o que nós
entendemos ordinariamente por querer é uma decisão consciente,
e para a generalidade das pessoas posterior ao que se elaborou nelas. Posso
querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me: tudo isto é
manifestação de uma escolha mais original mais espontânea do que se denomina
por vontade.
Escreveu
Dostoievsky: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido.”
É esse o
ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não
existe, e, por conseguinte, o homem encontra-se abandonado, porque não encontra
em si, nem fora de si, a que agarrar-se. Ao começo não tem desculpa.
Se, na
verdade, a existência precede a essência, não é possível explicação por
referência a uma natureza humana dada e hirta; dito de outro modo, não há
determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus
não existe, não encontramos em face de nós valores ou ordens que legitimem a
nossa conduta.
Assim,
não temos nem por detrás de nós nem à nossa frente, no domínio luminoso dos
valores, justificação ou desculpas. Estamos sozinhos, sem desculpa.
É o
que exprimirei dizendo que o homem está condenado a ser livre.
Se
suprimi Deus Pai, cumpre que alguém invente os valores. Temos de tomar as
coisas como elas são.
Aliás,
dizer que inventamos os valores não significa senão isto: a vida não tem
sentido a priori. Antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma, mas é
a nós que compete dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão o
sentido que tivermos escolhido.
Jean-Paul Sartre
Nasceu em Paris, dia 21 de junho de 1905,foi filósofo, escritor e crítico, conhecido como representante do existencialismo. Acreditava que os
intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista
militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra. Faleceu em 1980
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Apoio Cultural
Pimenta Rosa
na Av. Francisco Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário