domingo, 21 de junho de 2015






110 anos de Sartre

Antes de Vivermos,
a Vida é Coisa Nenhuma

O homem começa por existir, isto é, o homem é de início o que se lança para um futuro e o que é consciente de se projetar no futuro. O homem é primeiro um projeto que se vive subjetivamente, em vez de ser musgo, podridão ou couve-flor; nada existe previamente a esse projeto; nada existe no céu ininteligível, e o homem será em primeiro lugar o que tiver projetado ser.

 Não o que tiver querido ser. Porque o que nós entendemos ordinariamente por querer é uma decisão consciente, e para a generalidade das pessoas posterior ao que se elaborou nelas. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me: tudo isto é manifestação de uma escolha mais original mais espontânea do que se denomina por vontade.
    
      Escreveu Dostoievsky: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido.”
    
     É esse o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem encontra-se abandonado, porque não encontra em si, nem fora de si, a que agarrar-se. Ao começo não tem desculpa.

     Se, na verdade, a existência precede a essência, não é possível explicação por referência a uma natureza humana dada e hirta; dito de outro modo, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos em face de nós valores ou ordens que legitimem a nossa conduta.
     
      Assim, não temos nem por detrás de nós nem à nossa frente, no domínio luminoso dos valores, justificação ou desculpas. Estamos sozinhos, sem desculpa.

       É o que exprimirei dizendo que o homem está condenado a ser livre.

       Se suprimi Deus Pai, cumpre que alguém invente os valores. Temos de tomar as coisas como elas são.

      Aliás, dizer que inventamos os valores não significa senão isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão o sentido que tivermos escolhido. 

Jean-Paul  Sartre

Nasceu em Paris, dia 21 de junho de 1905,foi filósofo, escritor e crítico, conhecido como representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra. Faleceu em 1980


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