domingo, 28 de junho de 2015




Uma reflexão

Dia desses estive a pensar sobre o que é a sabedoria. Se para saber das coisas seria indispensável a cultura erudita.
Ou uma coisa nada tema ver com a outra? Se pode  ser culto sem ser sábio e ser sábio distante dos livros? Talvez possam  co-existir pacificamente.

Pensando nisso, lembrei-me de uma palestra proferida por um amigo. Ele inicia a palestra evocando uma parábola – acho que árabe – sobre um barqueiro contratado para transportar, com seu barco, um homem para a outra margem.

Um homem culto que, para mostrar sua erudição, vai perguntando coisas para o barqueiro e a cada resposta negativa, afirmava que ele tinha perdido a metade de sua vida não sabendo disto ou daquilo.

No meio da travessia, o barqueiro pergunta ao culto se ele sabia nadar, com a resposta negativa, o barqueiro diz que então ele acaba de perder a vida porque o barco tria afundar.

Ainda pensando no assunto fui buscar no filme Uma Janela para a Lua, uma cena em que o personagem interpretado por Nino Manfredi, conversa com um físico que fala da genialidade de Einsten, terminando o discurso dizendo: “acredita que ele não sabia fritar um ovo”? O que o personagem, simples, homem do interior, entende ser um absurdo. Para ele saber fitar um ovo é mais importante do que a Teoria da Relatividade.

Na realidade a cultura erudita serve para os que fazem uso dela, por profissão ou por simples diletantismo.

Se mostrar culto preenche o vácuo de nosso ego. Sempre é bom ser notado e respeitado. A erudição proporciona isso.

Quando menino, morador do Campo do Galvão tinha como vizinho um homem que vivia da pesca e da fabricação de apetrechos e objetos ligados a ela.

Não raro, lá estava eu, a observar seu trabalho e a lhe fazer indagações. Enquanto tecia uma rede de pesca ou uma tarrafa, ia respondendo sobre o dia ideal para se pescar tilápia ou bagre. Sobre o dia seguinte que não haveria pesca por causa da chuva. Rio caudaloso não era bom para uma ou outra espécie de peixe.

Além de destes conhecimentos, ainda colocava asa em latas de óleo e de massa de tomate,

Para ele isto era mais importante do que saber que o Rio Sena banha Paris e que o Tejo passa por Lisboa. Que Darwin pregava o evolucionismo e que Fernando Pessoa é nosso poeta maior.

Não sei se ele freqüentou a escola. Mas que importância teria na sua vida?

Também pouco freqüentei a escola, mas enveredei pelo caminho da cultura, até para sobreviver às minhas eternas angústias.

E às vezes penso, se eu soubesse apenas das pequenas coisas da vida, talvez pudesse estar mais próximo de mim.

Jorge Nicoli

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Apoio Cultural

Castelinho


Nenhum comentário:

Postar um comentário