Uma reflexão
Dia desses estive a
pensar sobre o que é a sabedoria. Se para saber das coisas seria indispensável
a cultura erudita.
Ou
uma coisa nada tema ver com a outra? Se pode ser culto sem ser sábio e ser sábio distante
dos livros? Talvez possam co-existir
pacificamente.
Pensando nisso,
lembrei-me de uma palestra proferida por um amigo. Ele inicia a palestra
evocando uma parábola – acho que árabe – sobre um barqueiro contratado para
transportar, com seu barco, um homem para a outra margem.
Um homem culto que,
para mostrar sua erudição, vai perguntando coisas para o barqueiro e a cada
resposta negativa, afirmava que ele tinha perdido a metade de sua vida não
sabendo disto ou daquilo.
No meio da travessia, o
barqueiro pergunta ao culto se ele sabia nadar, com a resposta negativa, o
barqueiro diz que então ele acaba de perder a vida porque o barco tria afundar.
Ainda pensando no assunto
fui buscar no filme Uma Janela para a Lua, uma cena em que o personagem
interpretado por Nino Manfredi, conversa com um físico que fala da genialidade
de Einsten, terminando o discurso dizendo: “acredita que ele não sabia fritar
um ovo”? O que o personagem, simples, homem do interior, entende ser um
absurdo. Para ele saber fitar um ovo é mais importante do que a Teoria da
Relatividade.
Na realidade a cultura
erudita serve para os que fazem uso dela, por profissão ou por simples
diletantismo.
Se mostrar culto
preenche o vácuo de nosso ego. Sempre é bom ser notado e respeitado. A erudição
proporciona isso.
Quando menino, morador
do Campo do Galvão tinha como vizinho um homem que vivia da pesca e da
fabricação de apetrechos e objetos ligados a ela.
Não raro, lá estava eu,
a observar seu trabalho e a lhe fazer indagações. Enquanto tecia uma rede de
pesca ou uma tarrafa, ia respondendo sobre o dia ideal para se pescar tilápia
ou bagre. Sobre o dia seguinte que não haveria pesca por causa da chuva. Rio
caudaloso não era bom para uma ou outra espécie de peixe.
Além de destes
conhecimentos, ainda colocava asa em latas de óleo e de massa de tomate,
Para ele isto era mais
importante do que saber que o Rio Sena banha Paris e que o Tejo passa por
Lisboa. Que Darwin pregava o evolucionismo e que Fernando Pessoa é nosso poeta
maior.
Não sei se ele
freqüentou a escola. Mas que importância teria na sua vida?
Também pouco freqüentei
a escola, mas enveredei pelo caminho da cultura, até para sobreviver às minhas
eternas angústias.
E às vezes penso, se eu
soubesse apenas das pequenas coisas da vida, talvez pudesse estar mais próximo
de mim.
Jorge Nicoli
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Apoio Cultural
Castelinho
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