terça-feira, 9 de junho de 2015



No trapézio

Entre tantos sonhos de criança, sonhava em ser trapezista, fazer acrobacias pulando de trapézio em trapézio, sonhava em segurar as mãos de uma linda mulher.
Sonhava com os olhares aflitos de centenas de espectadores, com os aplausos e o alívio na face de cada um.

Sonhos de criança, como era o de sonhar em pilotar um pássaro de aço ou tocar um instrumento qualquer. Sonhar em casar com aquela garota muito mais velha que eu . Quando se é criança o que menos importa é a idade.

São os moços e os velhos. Quarenta anos é velho, vinte é moço, Velhos são os pais, os tios, os avós, moços são os que estão perto da gente.

A gente cresce e aí nos deparamos com os trapézios, não os de nossos sonhos infantis, mesmo sendo invisíveis como aqueles, fazemos acrobacias, pulando de um para o outro, mas não há as moças bonitas. As cordas não estão seguras por estruturas de metal. O que as sustentam são mãos desconhecidas, como não há rede de proteção. Um descuido e despencamos num abismo sem fim.Não acordaremos depois do pesadelo, como acontecia quando criança. 

Não abriremos os olhos e nem veremos aquele maternal sorriso de todas as manhãs.

Jorge Nicoli
do livro Voar Não é Preciso
a ser lançado em outubro

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Mandala
na Oliveira Borges


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