segunda-feira, 1 de junho de 2015



Fim de uma ilusão

O bar sempre oferece inspiração para uma crônica, pois seus freqüentadores são personagens, na sua maioria, interessantes – para o bem ou para o mal – e numa destas minhas rápidas passagens por um bar, encontrei um assíduo freqüentador, com o qual troco idéias. quase sempre um papo agradável e agradável não significa intelectualidade, pode ser até bobagens, afinal, no bar é o que mais se encontra. como é no bar que encontramos os chatos. Aqueles que bebem e entendem que nós temos de ser tolerantes. Bem, se não queremos encontrar bêbado, o melhor seria ir para a igreja, onde existem chatos mas não bêbados.
Voltemos ao que interessa, o papo com o amigo do bar, Como de costume falou de suas coisas, de sua vida, às vezes com alegria, outras com certa tristeza. Não raro diz que não tem muito mais o que fazer por aqui e, com a mesma constância, fala de seus dotes culinários e do amor pelo neto. Enfim, um ébrio, como ele costuma se denominar quando a dosagem alcoólica se expande em seu organismo.
O amigo em questão também adora cantar, canta relativamente bem e costuma brindar os amigos do traçado e da cachaça com seus dotes de cantor. Nesta noite, inspirado resolveu cantar algumas canções, indagando se eu as conhecia uma ou outra, e quando a resposta era negativa ria de meu desconhecimento e isso lhe dava satisfação. Num intervalo em que esperava meu comentário, um outro frequentador, começa a entoar o início de Matriz ou filial, no que o amigo ébrio continuou e antes da última estrofe ouve-se elogio a Lupicínio Rodrigues, da sua capacidade de criar belos versos. Entusiasmo cortado, abruptamente, pela minha voz cavernosa dizendo que a canção não era de Lupicínio e sim de Lúcio Cardim. Fui contestado, mas me mantive firme, pois tinha a certeza do que estava afirmando. Lúcio e não Lupi o autor, uma certeza que abalou o ébrio cantor e demonstrando profunda tristeza saiu para fumar. Talvez uma fuga para não se irritar com minha sabedoria. Percebi o constrangimento causado.
Tentei mudar o assunto, falando de outras composições que, equivocadamente, se atribuem a outros que não os verdadeiros autores, mas não adiantou. Em silêncio me ouviu, até que falou: “se hoje fiquei mais sábio em matéria de música, estou triste de saber que o autor de Matriz ou filial não é Lupicínio”. Quase lhe pedi desculpas por ter tirado esta ilusão, não o fiz . Me despedi, e fui para a casa com a sensação de ter destruído uma grande ilusão com minha pretensa sabedoria.

Jorge Nicoli

Darci. o personagem desta crônica está internado, por isso resolvi colocar este texto em sua homenagem.

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Chamomila
Parceira do
Sopa de Cebola



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