sexta-feira, 3 de março de 2017


A Sensura


A nossa sociedade autoriza tudo o que não a incomoda. Se isto já não é plenamente verdade nos nossos dias, e se estamos em crise, é porque o interesse imediato dos que estão no poder se encontra em contradição com os valores que fundamentam este mesmo poder.

É-lhes necessário, por exemplo, incentivar o consumo que os enriquece, em detrimento da moral que os legitima.

Pela primeira vez, o poder fundamenta-se na confusão e não na ordem. Daí a mentira generalizada, de que a língua sofre. 

A permissividade atual autoriza que se diga tudo porque este tudo já não significa nada.

A palavra torna-se inofensiva por privação de sentido. A escrita sofre a mesma privação nas suas formas normalizadas: publicidade, jornalismo, best-sellers, que passam por escrita quando não o são. 

O objetivo da antiga censura consistia em tornar o adversário inofensivo, privando-o dos seus meios de expressão; a nova - que denominei sensura - esvazia a expressão para a tornar inofensiva, método mais radical e menos visível. 

Bernard Noel
Escritor e poeta, nascido na França em 1930

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Sábia Indecisão

Muito Mais Que Um Grupo de Teatro


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