A Conivência com o Mundo
Nasci dura,
heróica, solitária e em pé. E encontrei meu contraponto na paisagem sem
pitoresco e sem beleza. A feiúra é o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio
com um amor de igual para igual. E desafio a morte.
Eu – eu sou a
minha própria morte. E ninguém vai mais longe. O que há de bárbaro em mim
procura o bárbaro e cruel fora de mim. Vejo em claros e escuros os rostos das
pessoas que vacilam às chamas da fogueira. Sou uma árvore que arde com duro
prazer. Só uma doçura me possui: a conivência com o mundo.
Eu amo a minha
cruz, a que doloridamente carrego. É o mínimo que posso fazer de minha vida:
aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite.
.
Clarice Lispector
Escritora brasileira,
nascida na Ucrânia em
1920,
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