Aprende a ser como
os outros
Não precisamos de ler, estudar ou
conhecer ninguém, quando produzimos nós próprios. Pois não basta que produzamos
nós próprios?
E gostemos de nós próprios? Que nos
pode dar o espírito alheio, quando sobre o próprio nosso desceu em línguas de
fogo a sabedoria de tudo?
Melhor: A verdade é que nem
precisamos nós próprios de produzir (toda a produção é uma limitação), ou mal
precisamos de produzir, para usufruirmos as vantagens do criador e produtor.
Aprende a contar uma anedota; duas
anedotas; três anedotas; quatro anedotas... uma anedota diverte muita gente;
quatro anedotas divertem muito mais... aprende a polvilhar de blague todas
essas ideias sérias, pesadas, profundas, obscuras, - ao cabo simplesmente
maçadoras - com que pretendes sufocar; aprende a cultivar aquele subtil
espírito de futilidade que ligeiramente embriaga como um champanhe, e a toda a
gente agrada, lisonjeia todos, por a todos nos dar a reconfortante impressão de
pertencermos ao mesmo meio... estarmos ao mesmo nível; não queiras ser nem
sobretudo sejas mais inteligente ou mais sensível, mais honesto ou mais
sincero, mais trabalhador ou mais culto, mais profundo ou mais agudo... numa
palavra: superior.
Sim, homem! aprende a ser como os
outros, dizendo bem ou mal de tudo e todos - conforme - sem os excederes nem te
comprometeres demasiado; e deixa-me lá esses Proustes e esses Gides e esses
Dostoievskis e esses Tolstois (vem aí o tempo em que todos esses jarrões serão
levados para o sótão!), deixa-me essa estética e essa mística e essa metafísica
e essa ética (já o tempo chegou de se ver a inutilidade e o ridículo dessa
pretensiosa decoração), deixa-me lá esses estrangeiros, e essas estrangeirices.
José Régio,
José Régio,
1901/1969
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SOPA
DE CEBOLA
Compartilhando
inteligência
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