domingo, 29 de novembro de 2015



Um Bolero

As paredes descascadas pelo tempo
ostentam imagens desconexas
pintadas por um alucinado artista.

No canto do quarto
o abajur vermelho mal ilumina
meu corpo desnudo que treme de medo
quando olho através da janela
e vejo os olhos que me olham.

Na folha de rascunho em branco
rascunho alguns versos
para me esconder do meu medo,
mas as palavras são frágeis e inúteis
e frágil quedo diante
dos olhos que me olham através da janela.

Ainda cantarolo frases de uma canção
sobre uma velha e louca paixão.
Congelo meu pranto,
no entanto,
meus olhos olham os olhos
que me olham pelos vãos da janela

Seguro a bandeja com a cabeça de João Batista
como um Hamlet qualquer
me ponho a indagar sobre quem sou.
Perdido na indagação, me perco no dilema
de como escapar dos olhos que me olham.


Jorge Nicoli

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            GRÁFICA COLOR 7

Sacolas e embalagens


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