domingo, 8 de novembro de 2015


Instinto humano deteriorado

Um estranho paradoxo: as pessoas, quando agem, têm em mente o interesse privado mais mesquinho, mas ao mesmo tempo, no seu comportamento, são mais do que nunca determinadas pelo instinto das massas.

E mais do que nunca, o instinto das massas tornou-se errado. O obscuro instinto do animal - como inúmeros episódios o comprovam - encontra a saída para o perigo iminente mas ainda invisível.

Em contrapartida, esta sociedade, onde cada um tem apenas em vista o seu próprio interesse mesquinho, sucumbe como uma massa cega, com estupidez animal mas sem a estúpida sabedoria dos animais, a todo o perigo, ainda que muito próximo, e a diversidade dos objetivos torna-se insignificante, ante a identidade das forças determinantes. 

       Muitas vezes se tem demonstrado que é tão rígida a sua fixação à vida habitual, mas de há muito perdida, que acaba por não se verificar a aplicação efetivamente humana do intelecto, a previdência, até mesmo ante o perigo iminente.

Assim a imagem da estupidez completa-se nela: insegurança, ou mesmo perversão dos instintos vitais, e desfalecimento ou até decadência do intelecto.


Walter Benjamin,
Filósofo alemão
1892/1940

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