Quando Falo com Sinceridade
não sei com que Sinceridade Falo
Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não
sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com
inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única
anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser
participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de
não-eus sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa
Nascido em Portugal, em
1888
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Sábia Indecisão
Muito Mais Que Um Grupo de
Teatro
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