A Arte Nasce Sempre de Alguma Paixão
Para que a arte possa ser arte, não se lhe exige
uma sinceridade absoluta, mas algum tipo de sinceridade. Um homem pode escrever
um bom soneto de amor sob duas condições - porque está consumido pelo amor, ou
porque está consumido pela arte. Tem de ser sincero no amor ou na arte; não
pode ser ilustre em nenhum deles, ou seja no que for, de outro modo. Pode arder
por dentro, sem pensar no soneto que está a escrever; pode arder por fora, sem
pensar no amor que está a imaginar. Mas tem de estar a arder algures. De contrário,
não conseguirá transcender a sua inferioridade humana.
Fernando Pessoa
(1888/1935)
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