sexta-feira, 1 de maio de 2015



Epílogo
         Agora, o manto marinho que a lua roubou do azul, vem cobrir os seus anjos caídos pelo cansaço de um dia inteiro da uma luta insana pela sobrevivência.
         Na quietude aparente que a noite suporta, jazem os corpos recheados de insignificâncias, moldando a silhueta das almas nos leitos de papelão novo, como sudários temporários, cujas marcas não duram mais que uma gota de suor, ou de lágrima.  As pedras e o cimento frio contam as horas, antecipando o sono leve que o medo espanta a cada segundo de sonho. As luzes parecem serenar o semblante dos homens que se fingem serenos. E a cidade, assim, vai cumprindo a sua função de abrigo, de aconchego aos mais descuidados. Vai esparramando generosamente os seus espaços sem medir a grandeza e a pequenez de seus milhões de habitantes. Parece que nela tudo cabe sem que lhe peçam licença. Dela todos se deleitam, ou a molestam sem consentimento. E ela permanece neutra a tudo e a todos sem manifestar-se em julgamentos. Presta-se apenas a servir de palco. Um imenso palco em forma de coração, cujas artérias pulsam vidas com os nevos á flor da pele, e no mais absoluto anonimato. E tudo isto para que os seus protagonistas se animem a contar as muitas tragédias humanas confundindo drama e comédia num mesmo ato e sem intervalos. Uma história comovente que brinca com os sentimentos na desordem de todos os sentidos. Histórias de dor e sofrimento de um enredo desvairado e desconexo ditas com o prazer e o sabor de cada palavra, ainda que estas sejam contadas e interpretadas com um enorme riso estampado na face de cada artista no exercício da sua função: “homem, ou palhaço”.
José  de Lima

Jack Gás
parceiro do
Sopa de Cebola


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