Epílogo
Agora,
o manto marinho que a lua roubou do azul, vem cobrir os seus anjos caídos pelo
cansaço de um dia inteiro da uma luta insana pela sobrevivência.
Na
quietude aparente que a noite suporta, jazem os corpos recheados de
insignificâncias, moldando a silhueta das almas nos leitos de papelão novo,
como sudários temporários, cujas marcas não duram mais que uma gota de suor, ou
de lágrima. As pedras e o cimento frio contam as horas, antecipando o
sono leve que o medo espanta a cada segundo de sonho. As luzes parecem serenar
o semblante dos homens que se fingem serenos. E a cidade, assim, vai cumprindo
a sua função de abrigo, de aconchego aos mais descuidados. Vai esparramando
generosamente os seus espaços sem medir a grandeza e a pequenez de seus milhões
de habitantes. Parece que nela tudo cabe sem que lhe peçam licença. Dela todos
se deleitam, ou a molestam sem consentimento. E ela permanece neutra a tudo e a
todos sem manifestar-se em julgamentos. Presta-se apenas a servir de palco. Um
imenso palco em forma de coração, cujas artérias pulsam vidas com os nevos á
flor da pele, e no mais absoluto anonimato. E tudo isto para que os seus
protagonistas se animem a contar as muitas tragédias humanas confundindo drama
e comédia num mesmo ato e sem intervalos. Uma história comovente que brinca com
os sentimentos na desordem de todos os sentidos. Histórias de dor e sofrimento
de um enredo desvairado e desconexo ditas com o prazer e o sabor de cada
palavra, ainda que estas sejam contadas e interpretadas com um enorme riso
estampado na face de cada artista no exercício da sua função: “homem, ou palhaço”.
José de Lima
Jack Gás
parceiro do
Sopa de Cebola
Nenhum comentário:
Postar um comentário