domingo, 17 de maio de 2015


Conversa no Circular

Contou-me, certa vez, um amigo que estava no Chile na época do golpe que derrubou – e assassinou – Allende, sobre o boicote dos grandes empresários nos meses antecedentes aos acontecimentos de 11 de setembro de 1973. Faltavam gêneros alimentícios, de higiene e no final, papel higiênico. Acredite, o Chile ficou sem papel higiênico. Imagine um País sem este produto;
O episódio serve para ilustrar o encontro que tive com um conhecido dentro de um circular da linha Guaratinguetá-Lorena. O cidadão estava no ônibus acompanhado por dois fardos de papel higiênico comprados em Guaratinguetá porquanto havia uma diferença no preço em relação a Lorena. Alguns centavos por rolo, mas como eram dois fardos poderia compensar a a viagem e o incômodo de levar os enormes pacotes.
Confesso que não me preocupei em fazer as contas, mas o importante foi sua explicação sobre como economizar no uso do papel higiênico. Segundo sua explanação se desperdiça muito papel, isto é, se usa o papel de maneira inadequada, gerando  assim um alto custo na economia doméstica.
Empolgado, falou da lição aprendida de quando serviu ao glorioso Exército Brasileiro, o uso correto do papel higiênico. O capitão liberava apenas um rolo por mês para cada recruta. Acredito que o soldado estava assim terminantemente proibido de ter diarréia, sob pena de prisão.
Talvez o capitão pudesse, neste caso extremo, adiantar um ou mais rolos de papel. Adiantamento que seria compensado no futuro ou no soldo do recruta.
Pensei se não seria melhor voltar aos velhos tempos, quando se usava jornal ou papel de embrulho. Faríamos um acordo com uma distribuidora de jornais ou então com alguns amigos leitores. Tudo de graça, com uma economia maior pois não seria necessário gastar com o suporte e só daria um pouco de trabalho cortar o papel num tamanho adequado.
Como a viagem é, relativamente curta, não fiquei sabendo se havia outros meios de economizar produtos de limpeza. Pode ser que ficasse sabendo como economizar sabonete, cortá-lo em trinta pedaços – um para cada dia – ou talvez, a melhor maneira de economizar desodorante, pasta de dente, sabão em pó, detergente, enfim , poderia me tornar um homem rico economizando alguns centavos por dia. Quem sabe em cem anos. Viajando e aprendendo.

Jorge  Nicoli

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Tatá Cardoso
Fotógrafo e parceiro do
Sopa de Cebola



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