Envelhecer
Envelhecer, caminho natural
da existência humana, se aproximando da morte, final inexorável. Se bem que,
vez ou outra, a morte resolva interferir nesta lógica. Quando não, caminhamos
para o envelhecimento, para a diminuição gradativa da energia. O envelhecer nos
fragiliza, nos enfraquece, física e psicologicamente, ainda mais se nos
deixamos abater por estarmos envelhecendo.
Não há como paralisar a
corrida do tempo, não há como estancar o transbordamento das energias, não há
como segurar o ritmo da existência. Não raro nos enganamos pensando que roupas jovens nos tornará mais jovens ou que
locais joviais nos trará jovialidade. O envelhecer não se deixa contaminar
pelas aparências. O envelhecer tem um certo tom de crueldade, por isso corremos
o risco de nos tornarmos tolos quando perdemos o contato com a realidade. Uma realidade dura, pois estamos impregnados
de lembranças, fomos crianças, adolescentes, jovens, tínhamos cabelos, dentes fortes, faces lisas, olhos brilhantes,
pulamos corda ou jogamos futebol, trocamos
olhares com outro jovem, sonhamos,
sonhos palpáveis ou não. Mas sonhos. Hoje nossa face reflete o passar da vida,
há rugas e olhos não tão vivos. Lembrar faz bem, porém é preciso não se prender
às lembranças, que só servem como lembranças.
É possível, até saudável, aproximar-se
dos jovens. Nos rejuvenesce. É possível
que esta sensação tome conta de nosso ser, só não é possível voltar a ser
jovem. Envelhecer não nos tira a capacidade de, ainda, sonhar, sonhos
maduros, como é possível se apaixonar,
assim os olhos voltarão a brilhar. Acreditar na possibilidade de fazer coisas
como pintar, bordar, dançar, praticar esportes, subir nos palcos, cantar, tocar
um instrumento. Sim, tudo possível, desde que se tenha consciência de nossas limitações,
de nosso envelhecer. Aproveitar o envelhecimento para amadurecer, perceber que
caminhamos e que ainda temos o que caminhar. Não se preocupar com o tempo que
resta, mas com o tempo que temos para percorrer o caminho, mais curto ou mais
longo, não importa, o que importa é caminhar,
carregando nos ombros, não o peso da idade, mas a leveza do
envelhecer com dignidade.
Jorge Nicoli
Chamomila
Parceira do
Sopa de Cebola
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