sexta-feira, 25 de dezembro de 2015


A mudança só se dá na continuidade

Dirigirmo-nos a alguém com a missão de que se transforme noutro, é irmos com a embaixada de que ele deixe de ser ele.

Cada qual defende a sua personalidade, e só aceita uma mudança na sua maneira de pensar ou de sentir, na medida em que esta alteração possa entrar na unidade do seu espírito e enredar-se na sua continuidade; na medida em que essa mudança se puder harmonizar e se conseguir integrar com tudo o resto da sua maneira de ser, pensar e sentir, e possa, por outro lado, enlaçar-se nas suas recordações.

 Nem a um homem, nem a um povo - que, em certo sentido, também é um homem - se pode exigir uma mudança, que desfaça a unidade e a continuidade da sua pessoa.

Pode-se mudá-lo muito, quase até por completo; mas sempre, dentro da continuidade.

      É certo que, em certos indivíduos, acontece aquilo a que se chama mudança de personalidade; mas isso é um caso patológico, e é como tal que os psiquiatras o estudam.

Nessas alterações de personalidade, a memória, base da consciência, arruina-se por completo e, ao pobre paciente, só resta, como substrato de continuidade individual - já que não pessoal -, o organismo físico.

Tal enfermidade equivale à morte para o sujeito que dela padece; para os que não equivale à sua morte é para os seus herdeiros, se tiver bens de fortuna: e essa enfermidade não é senão uma revolução, uma verdadeira revolução.

Miguel de Unamuno,
1864/1936
Filósofo e escritor espanhol

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GRÁFICA COLOR 7

Sacolas e embalagens





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