A mudança só se dá na continuidade
Dirigirmo-nos a
alguém com a missão de que se transforme noutro, é irmos com a embaixada de que
ele deixe de ser ele.
Cada qual defende a
sua personalidade, e só aceita uma mudança na sua maneira de pensar ou de
sentir, na medida em que esta alteração possa entrar na unidade do seu espírito
e enredar-se na sua continuidade; na medida em que essa mudança se puder
harmonizar e se conseguir integrar com tudo o resto da sua maneira de ser,
pensar e sentir, e possa, por outro lado, enlaçar-se nas suas recordações.
Nem a um homem, nem a um povo - que, em certo
sentido, também é um homem - se pode exigir uma mudança, que desfaça a unidade
e a continuidade da sua pessoa.
Pode-se mudá-lo
muito, quase até por completo; mas sempre, dentro da continuidade.
É certo que, em certos indivíduos, acontece aquilo a que se chama mudança de personalidade; mas isso é um caso patológico, e é como tal que os psiquiatras o estudam.
Nessas alterações
de personalidade, a memória, base da consciência, arruina-se por completo e, ao
pobre paciente, só resta, como substrato de continuidade individual - já que
não pessoal -, o organismo físico.
Tal enfermidade
equivale à morte para o sujeito que dela padece; para os que não equivale à sua
morte é para os seus herdeiros, se tiver bens de fortuna: e essa enfermidade
não é senão uma revolução, uma verdadeira revolução.
Miguel de Unamuno,
Miguel de Unamuno,
1864/1936
Filósofo e escritor espanhol
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GRÁFICA COLOR 7
Sacolas e embalagens
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