A
racionalização das emoções
O ponto de vista
feminino tem sido muito mais difícil de expressar que o masculino. Se assim me
posso exprimir, o ponto de vista feminino não passa pela racionalização por que
o intelecto do homem faz passar os seus sentimentos.
A mulher pensa
emocionalmente; a sua visão baseia-se na intuição. Por exemplo, ela pode ter um
sentimento em relação a qualquer coisa que nem sequer é capaz de articular.
A princípio, achei
extremamente difícil descrever como me sentia. Porém, se fazemos psicanálise, a
questão é sempre: «Como é que se sentiu em relação a isso?» e não «O que é que
pensou?» E como muito frequentemente a mulher não deu o segundo passo, que é
explicar a sua intuição - por que passos lá chegou, o a-b-c daquilo - ela não
consegue ser tão articulada.
Ora eu tentei fazer
isso (quer tenha conseguido quer não), e, porque estava a escrever um diário
que pensava que ninguém leria, consegui anotar o que sentia acerca das pessoas
ou o que sentia acerca do que via sem o segundo processo.
O segundo processo veio através da psicanálise, que era
igualmente um método de comunicar com o homem em termos de uma racionalização
das nossas emoções de modo que pareçam fazer sentido ao intelecto masculino.
Por isso existe uma
diferença, penso eu, que é muito profunda, mas que está a começar a
desaparecer. Com efeito, penso que, quando a geração mais jovem passa por
qualquer experiência psicanalítica descobre que os sonhos dos homens e das
mulheres são os mesmos, o inconsciente é universal, e que aí as coisas brotam
do sentimento e do instinto e não passaram pelo processo de racionalização, e
portanto este é um ponto de vista feminino.
Anais Nin,
1903/1977
Autora norte-americana
==================
SOPA
DE CEBOLA
Boletim
de Arte e Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário