sexta-feira, 18 de dezembro de 2015



A racionalização das emoções

O ponto de vista feminino tem sido muito mais difícil de expressar que o masculino. Se assim me posso exprimir, o ponto de vista feminino não passa pela racionalização por que o intelecto do homem faz passar os seus sentimentos.

A mulher pensa emocionalmente; a sua visão baseia-se na intuição. Por exemplo, ela pode ter um sentimento em relação a qualquer coisa que nem sequer é capaz de articular.

A princípio, achei extremamente difícil descrever como me sentia. Porém, se fazemos psicanálise, a questão é sempre: «Como é que se sentiu em relação a isso?» e não «O que é que pensou?» E como muito frequentemente a mulher não deu o segundo passo, que é explicar a sua intuição - por que passos lá chegou, o a-b-c daquilo - ela não consegue ser tão articulada.

Ora eu tentei fazer isso (quer tenha conseguido quer não), e, porque estava a escrever um diário que pensava que ninguém leria, consegui anotar o que sentia acerca das pessoas ou o que sentia acerca do que via sem o segundo processo.
O segundo processo veio através da psicanálise, que era igualmente um método de comunicar com o homem em termos de uma racionalização das nossas emoções de modo que pareçam fazer sentido ao intelecto masculino.

Por isso existe uma diferença, penso eu, que é muito profunda, mas que está a começar a desaparecer. Com efeito, penso que, quando a geração mais jovem passa por qualquer experiência psicanalítica descobre que os sonhos dos homens e das mulheres são os mesmos, o inconsciente é universal, e que aí as coisas brotam do sentimento e do instinto e não passaram pelo processo de racionalização, e portanto este é um ponto de vista feminino.

Anais Nin, 
1903/1977
Autora norte-americana

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